Alexandre Dezem Bertozzi
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Radioamadorismo: Hobby ou Ciência?

A História das Telecomunicações no Brasil "RONDON – O Comunicador"

Cândido Mariano da Silva Rondon

“Em memória dos Pioneiros das Comunicações no Brasil”.

Artigo 01.

Há milhares de anos atrás, um homem sem nome, carteira de identidade e título de eleitor, conseguiu passar uma mensagem para seu companheiro. Através de sinais, utilizando-se de signos até então desconhecidos, este cidadão estabeleceu um código que trouxe uma possibilidade única em si mesmo: “O Ato de Comunicação”.

Daquele momento, até os dias atuais, o homem vem aperfeiçoando a arte de comunicar-se, criar laços, romper fronteiras, derrubar barreiras. Todos os povos, todas as nações perseguem o mesmo objetivo – o emissor transmite sua mensagem codificada, o receptor decodifica-a e apreende o sentido. E assim, as estórias podem ser contadas, as tradições podem ser perpetuadas, a memória tem o seu arquivo.

O Mundo Moderno é o mundo das comunicações, todos os países desenvolvidos e aqueles que buscam o desenvolvimento, reconhecem o valor e a necessidade de aperfeiçoar seu sistema de telecomunicações. O Brasil já tem sua historia na arte de se comunicar, e com prazer e orgulho que tento, dentro de minhas parcas possibilidades, fazer parte, mesmo que extremamente modesta, deste processo.

A comunicação é uma das grandes revoluções de nossa época, aquela que possibilita de modo geral, transformar o mundo em “uma Aldeia Global”. O Brasil faz parte dela, trocando conhecimentos e experiências, assimilando novas e recentes técnicas, garantindo seu desenvolvimento. Parabenizo a cada homem que deu “um passo” nesta direção, que ajudou, trabalhou e entendeu que nosso País não podia ficar de fora e “perder o bonde da história”.

Neste artigo, transcreverei a história de um desbravador brasileiro que muito contribuiu para as Comunicações no Brasil.

No dia 5 de maio de 1865, na Sesmaria do Morro Redondo, em Mimoso, Mato Grosso, nascia Cândido Mariano da Silva Rondon que, perdendo os pais muito cedo, passou a residir com seu avô, de quem adotaria o sobrenome Rondon.

Até 1878, o Menino Cândido Rondon fez os seus estudos primários. Em 1879, em Cuiabá, matriculou-se no Liceu Cuiabano, onde ficou até 1881, quando se formou professor, com 16 anos de idade. Seguiu para o Rio de Janeiro em 1881, ainda matriculando-se na Escola Militar onde ficou até janeiro de 1889, quando se formou. E foi na qualidade de Tenente do “Glorioso Exército de Caxias” que iniciou a sua Epopéia das Comunicações, que o imortalizaria.

Em 1890 pretendia o Governo estabelecer contatos telegráficos com os distantes pontos deste país de dimensões continentais, para o que foi constituída uma Comissão Construtora de Linhas Telegráficas, chefiada pelo então Major Antonio Ernesto Gomes Carneiro.

Por ser homem nascido nos sertões mato-grossenses, familiarizado com a vida das selvas, o Tenente Rondon, sob o comando do Major Gomes Carneiro, iniciou seu trabalho em prol da integração nacional. Em 13 meses, estende com seus comandados a linha telegráfica, ligando Cuiabá a Registro do Araguaia, num total de 600 Km, passando por Capim Branco. De lá, toma o rumo de Ponte da Pedra, depois a Sangradouro, sem maiores problemas. Quando se encontravam em Ribeirão de Insua, a 42 Km do final tiveram que levantar acampamento e retornar, às pressas, a Registro do Araguaia, já que os índios começavam a mostrar-se ameaçadores, e Gomes Carneiro não queria matá-los, ou sequer afugentá-los. Em 30 de abril de 1891, são inauguradas as estações telegráficas e Gomes Carneiro passa para Rondon a chefia da Comissão Construtora de Linhas Telegráficas.

Em 1892 foi iniciada a reconstrução das linhas telegráficas de Cuiabá ao Araguaia. Foi nessa época que Rondon estabeleceu o "Lema" que nortearia todo seu trabalho no sertão, em relação aos índios; "Morrer, se necessário for; matar, nunca!" Descendentes de índios pelo lado materno, amava-os como a irmãos que realmente eram, e, ao longo de sua vida, seu nome seria cantado à beira do fogo nos tapiris como o "Pai Branco" do povo indígena.

Em 1900, Rondon volta ao sertão para iniciar a construção da linha Cuiabá-Corumbá até as fronteiras do Paraguai e Bolívia. Com 100 homens, inicia os trabalhos, sofre baixas pelas doenças na Selva e recebe auxílio dos índios Bororós, em troca de presentes e comidas. Em 6 anos, construíram uma rede telegráfica com 1746 Km de extensão e 7 estações. A fronteira do Paraguai ficou ligada ao Brasil por dois pontos: Porto Murtinho e Bela Vista a da Bolívia por Corumbá e Coimbra. E, em expedições geográficas, tornou a região conhecida do ponto de vista cartográfico e demográfico.

Em 1909 o então Presidente da República Afonso Pena chama-o ao Rio de Janeiro para dar-lhe nova tarefa: ligar, por telégrafo, Mato Grosso ao Amazonas, tendo como pontos extremos Cuiabá e Santo Antônio da Madeira. De 3 de maio de 1909 a 21 de dezembro do mesmo ano a expedição percorreu todo o noroeste matogrossense. Foram 2297 Km por terra e 1138 Km por via fluvial, além de 200 Km de variantes estudadas, perfazendo um total de 2435 Km. Em 14 de junho de 1910, um ano depois, era inaugurada a estação telegráfica de Juruena, de 101 Km e 885 metros de linha assentada entre Utiariti e Juruena. Mais tarde, em 12 de outubro, começariam a funcionar as estações Nhambiquara e Vilhenas, a 130 Km de Cuiabá. Paralelamente, Rondon prosseguia com suas incursões pela mata, para reconhecimento geográfico da região.

Em 1913 Rondon recebeu telegramas dos Ministros da Guerra, Viação e Exterior sobre a escolha de seu nome para organizar a comissão que deveria acompanhar o Sr. Roosevelt, ex-presidente dos Estados Unidos, na sua viagem através do Brasil. Foi nessa viagem pelo interior do Brasil que Rondon descobriu o Rio da Dúvida, afluente do Madeira, de que muitos duvidam da existência, daí o nome. Diz-se que o roteiro traçado para o passeio de Roosevelt havia sido preconcebido por Rondon, para esse fim. A missão, que durou de dezembro de 1913 a maio de 1914, começou em Cuiabá e terminou em Manaus, num total de 3 mil Km. De maio de 1914 a novembro do mesmo ano, foi total sua dedicação à instalação das linhas telegráficas do Amazonas, ligando o Vale do Ji-Paraná ao Janari, atravessando um contraforte da Cordilheira dos Parecis. Um ano depois, estava terminada a linha.

Voltando ao interior em 1915, dedicou-se ao levantamento geográfico de regiões do Mato Grosso. Estudou o Vale do Araguaia, completou o levantamento dos vales do Madeira e do Paraguai, descobriu o Rio Juruena, traçou o divisor das águas do Paraná com o Taquari e o Aquidauana, levantou a cabeceira de mais cinco rios, delineou seus limites, o do Xingu com o Cuiabá e o das Mortes, caracterizou diferentes serras e a extremidade norte da Serra dos Parecis.

De 1920 a 1922, Rondon dedicou-se à retificação dos levantamentos já realizados, à construção da linha telegráfica Aquidauana-Ponta Porã, com 508 Km de extensão, e à instalação, no Rio, de um escritório central. De 1927 a 1930, Rondon percorreu as fronteiras do Brasil, delimitando-as definitivamente com a Venezuela, Guianas, Bolívia e a do Paraná – Santa Catarina com Paraguai e Argentina. Resolveu, ainda, como mediador, questões de fronteiras com o Peru e a Colômbia.

Rondon e os Índios

Empolgado, desde muito cedo, pelo problema do brasilíndio, Rondon dedicou sua vida a serviço do índio.

"Morrer se necessário for; matar nunca!" Este o Lema que acompanhou Rondon e seus comandados, no contato com os índios. Sua política de atração, mesmo quando atacado – e quantas vezes tal ocorreu – era sempre a mesma: recuar, deixando nas clareiras presentes aos índios, sem disparar um só tiro. Aí, ficava dias à espreita, deixando, vez por outra, mais presentes.

Quando ia ao Rio de Janeiro sempre lutava junto aos escalões superiores, pelo amparo aos índios, contra a miséria e a insalubridade na qual viviam. E os exaltava, pela colaboração que lhe prestavam nas missões que empreendia.

E lutava com denodo pela fundação de um órgão que os protegesse, amparasse.

Em 7 de setembro de 1910, o Presidente da República Nilo Peçanha fundou o Serviço de Proteção ao Índio e Trabalhadores Nacionais.

Em 1939 Rondon foi designado para Presidente Honorífico do novo Conselho Nacional de Proteção ao Índio, hoje, Fundação Nacional do Índio – FUNAI. Enfrentou os perigos da selva, o desconforto dos acampamentos em plena mata, os enxames de muriçocas, borrachudos. A tudo suportou com estoicismo, jamais recuando, sempre severo, quando em ações, na exigência à disciplina por parte de seus comandados, no que não transigia de maneira alguma. Mas mostrava-se insolitamente dócil quando se tratava de um índio.

Justo Reconhecimento

A 19 de janeiro de 1958, com 93 anos, morre Cândido Mariano da Silva Rondon, comunicador e integrador por excelência, que está na consciência do povo brasileiro. Em sua homenagem foi dado o nome de Rondônia à grande Região desmembrada dos Estados de Mato Grosso e Amazonas por onde ele passou em 1909, em viagem de descoberta.

Sua obra no setor de Comunicações serviu de base para os trabalhos hoje realizados pelo Ministério das Comunicações em todo o país. Fronteiras fixadas por ele, com imensas dificuldades, foram definitivamente delimitadas pelo Ministério das Relações exteriores. De sua política e pesquisa com índios resultou a FUNAI.

Portanto, é uma justa e merecida homenagem que, no dia 5 de maio, data do aniversário de Cândido Mariano da Silva Rondon, celebre-se no Brasil o "Dia das Comunicações".

Alexandre Dezem Bertozzi

Técnico em Telecomunicações;

Engenheiro Eletricista e Eletrônico;

Especialista em Engenharia de Segurança e Higiene do Trabalho;

Especialista em Redes de Computadores;

Licenciado Pleno em Matemática;

Radioamador, Musico-Amador, Satelitentusiasta, Radialista.

Bibliografia:

Jaroslav Smit, Linhas de Comunicações, Editora Érica, 3ª edição, 1988, São Paulo.

Henry British Lins de Barros. Cadernos da TELECOM I – Historia Geral das Telecomunicações no Brasil – Associação Brasileira de Telecomunicações, Xerox do Brasil S/A. 1ª edição, 1989, São Paulo

Revista QSL nº 1, MID produções - 1999

Revista QSL nº 2, MID produções - 1999

Coletânea do Radioamador TOMO I, 3ª edição – 1981 – editora Antenna, Rio de Janeiro.

http://www.bertozi.com/radio.html


Artigo sobre Radioamadorismo no Jornal Nova Imprensa -Gazeta do Oeste


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